
A rica narrativa de O Senhor dos Anéis, escrita por J.R.R. Tolkien, está repleta de nuances, intrigas e reviravoltas que, por vezes, passam despercebidas até pelos fãs mais atentos. Entre as muitas histórias entrelaçadas, há uma conexão fascinante entre dois dos maiores antagonistas da trama: Saruman e o Rei Bruxo de Angmar. Este último, servindo como líder dos Nazgûl, fez uma previsão surpreendente sobre a trágica queda de Saruman, uma das figuras mais poderosas da Terra-média. No entanto, essa previsão permanece como um detalhe obscuro, muitas vezes ignorado.
Ao longo da saga, é evidente que os servos do mal sofriam de uma notória falta de unidade. Os Orcs estavam constantemente envolvidos em disputas internas, criaturas como Laracna agiam por interesse próprio e até Saruman, o mago corrompido, tinha ambições que colidiam com os planos de Sauron. Apesar disso, Tolkien forneceu vislumbres de momentos de interação e tensão entre esses personagens sombrios. Um exemplo fascinante está em Contos Inacabados de Númenor e da Terra-média, onde o confronto entre Saruman e os Nazgûl é detalhado, revelando como o Rei Bruxo antecipou a traição e o declínio de Saruman.
Grima traiu Saruman ao Rei Bruxo
Em setembro do ano 3019 da Terceira Era, os Nazgûl chegaram a Isengard com uma missão clara: obter informações sobre o Um Anel e seu paradeiro. Isso ocorreu pouco após Gandalf escapar da prisão de Orthanc, deixando Saruman furioso e vulnerável. Questionado sobre Baggins e o Condado, Saruman, embora já estivesse observando a região, fingiu ignorância. Ele redirecionou os Nazgûl para Gandalf, em uma tentativa de preservar seus próprios interesses.
Mesmo sendo especialistas em detectar mentiras, os Nazgûl foram temporariamente iludidos pelo poder hipnótico da voz de Saruman. Contudo, durante sua busca por Gandalf, eles cruzaram com Gríma Língua de Cobra, mensageiro de Saruman, cuja covardia era amplamente conhecida. Tomado pelo medo ao se deparar com os Nazgûl, Gríma revelou tudo o que sabia sobre o Condado e as artimanhas de Saruman. Essa traição enfureceu o Rei Bruxo, que, mesmo assim, decidiu adiar a vingança de Sauron para priorizar a recuperação do Um Anel.
O Rei Bruxo Facilitou a Queda de Saruman

Temendo por sua vida após revelar informações cruciais, Gríma suplicou pela misericórdia do Rei Bruxo. Foi nesse momento que o líder dos Nazgûl, com incrível perspicácia, previu o destino de Saruman. Tolkien escreveu:
“O Senhor dos Nazgûl poupou a vida de Gríma, não por piedade, mas porque percebeu que o medo o silenciaria, e também porque viu que a criatura era tão vil que poderia causar grande dano a Saruman se vivesse.”
Essa observação foi mais do que acertada. A natureza traiçoeira de Gríma eventualmente levou à morte de Saruman, tanto no romance quanto na versão estendida do filme O Retorno do Rei. Enquanto no livro Gríma assassinou Saruman em Hobbiton, nos filmes de Peter Jackson, o ato ocorreu em Isengard. Ambas as versões, no entanto, compartilham a essência: o abuso e o desprezo de Saruman por Gríma acabaram sendo sua ruína.
Essa previsão torna-se ainda mais irônica quando se considera que o próprio Rei Bruxo também foi vítima de uma profecia. A famosa visão de Glorfindel afirmava que “nenhum homem” poderia matá-lo, o que o levou a subestimar seus oponentes. Essa confiança desmedida foi destruída na Batalha dos Campos de Pelennor, onde Éowyn, auxiliada por Merry, provou que a profecia poderia ser cumprida de maneira inesperada.
Conclusão
A relação entre Saruman, Gríma e o Rei Bruxo ilustra como os próprios servos do mal estavam condenados por sua desunião e traições. Saruman, embora incrivelmente poderoso, subestimou tanto seus aliados quanto seus subordinados, um erro que o levou à morte. O Rei Bruxo, por sua vez, mostrou um raro momento de percepção ao prever que Gríma acabaria se voltando contra Saruman.
Tolkien magistralmente teceu esses detalhes em suas obras, criando uma narrativa que recompensa os leitores mais atentos. Assim, ao revisitar O Senhor dos Anéis ou Contos Inacabados, é fascinante perceber como até mesmo os personagens mais sombrios foram vítimas de suas próprias falhas e daqueles que subestimaram.